Para garantir que um empreendimento tenha sucesso e consiga se manter a longo prazo, é importante um planejamento que inclua, como parte de suas estratégias, uma reserva de recursos. Esse dinheiro pode ser utilizado para diversos fins, como compra de novos materiais, conserto de equipamentos, investimentos em capacitações, entre outras iniciativas.

No caso de cooperativas, a legislação vigente exige a criação de alguns fundos obrigatórios (veja mais aqui) como, por exemplo, o Fundo de Reserva destinado a reparar perdas e atender ao desenvolvimento de suas atividades, constituído de 10% das sobras líquidas do exercício, ou seja, sobras de tudo o que a cooperativa paga (débitos) e recebe (créditos) de um exercício (espaço de tempo em que a contabilidade apura o seu resultado: receitas e despesas).

Outro fundo obrigatório é o de Assistência Técnica, Educacional e Social (FATES), destinado à prestação de assistência aos associados, seus familiares e aos empregados da cooperativa, constituído de 5% das sobras líquidas apuradas no exercício. Estes percentuais podem ser repassadosproporcionalmente ao período do trabalho ou podem ser investidos em educação e equipamentos, ambas ações são deliberadas em Assembléia Geral.

No Programa ReDes, os empreendimentos apoiados estão de olho nestas questões e muitos já deram início a alguns processos internos para incorporar a demanda. É o caso da Cooperativa de Produção do Criminoso (Coopercrim), formada a partir da Associação de Produtores Rurais da Região do Criminoso, responsável pelo Empreendimento Comunitário Sabores da Fazenda, de Niquelândia (GO).

Os 10% das sobras líquidas do exercício vão para um fundo, no qual os recursos podem ser utilizados na compra ou manutenção de equipamentos. A cooperativa definiu ainda que outros 10% são destinados a uma poupança. O destino final deste recurso será ainda discutido em assembleia até o final do ano.

Para as mulheres participantes do Sabores da Fazenda, essa prática de poupar já faz parte da rotina. Isso porque, desde o início do projeto no ReDes, elas decidiram destinar os recursos que receberiam de uma bolsa-auxílio por participarem da iniciativa para um fundo único. Assim, em vez de, individualmente, receberem cerca de R$300,00 por mês, as empreendedoras investiram a verba no aprimoramento do seu negócio.

Segundo Edivânia Ribeiro Spíndola, presidente da associação, os recursos foram destinados à construção de uma nova sede – o projeto previa apenas a reforma de um espaço já existente – assim como na compra de um túnel de congelamento e de um baú isotérmico instalado no caminhão para transportar os panificados congelados. Além disso, a verba serviu para o pagamento da documentação para a criação da cooperativa.

“A nossa estratégia deu muito certo, pois estamos conseguindo vender cada vez mais. Em alguns meses chegamos a receber R$ 850,00 cada uma e, para quem vive na zona rural, como nós, é um salário muito bom”, comenta Edivânia.

Já a Associação Curvelana dos Catadores de Recicláveis (ASCCARE), de Curvelo (MG), mesmo ainda não sendo cooperativa, também estabeleceu no seu estatuto que 10% do que é arrecadado a partir da venda do material reciclado vai para um fundo criado para manter a associação.

Segundo Edivânia Maria da Silva, presidente da associação, o recurso ainda não é suficiente para todos os gastos da associação, que recebe uma subvenção da prefeitura. Mas o grupo acredita que, em breve, conseguirá uma verba adequada, principalmente porque, a partir da próxima semana, os catadores já iniciarão a coleta em mais cinco bairros da cidade.

Edivânia destaca ainda que outros dez são destinados a uma reserva para que o negócio Reciclasccare, iniciado com o apoio do ReDes, possa se manter quando o programa não oferecer mais aporte de recursos. Na opinião da presidente da ASCCARE, o fundo será essencial para o empreendimento a longo prazo. “Se não tivermos essa reserva, como vamos fazer para consertar um equipamento quando quebrar? Temos que pensar também no amanhã”, destaca.